Historicando

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07 março 2013

O que é preciso de saber sobre... Roma antiga


O que é preciso de saber sobre... Roma antiga e seu Império em poucas linhas? O mais simples seria dizer que é duplamente matriz do mundo ocidental. Primeiro, enquanto unidade política hegemónica, promotora de ampla globalização cultural e jurídica, materializada em inúmeras comunidades locais auto governadas. Depois, quando o Império era já cristão e politicamente ruiu, sobreviveu como Cristandade.
Quando se pensa em Roma e no seu mundo, a imagem que ocorre é a de um cometa: núcleo vasto e brilhante e enorme rasto estendendo-se aos nossos dias. O núcleo situa-se no lapso temporal iniciado há 2 200 anos com um final mais ténue, confundindo-se já com o seu rasto, há 1 500 anos, se pensarmos somente no Ocidente, ou há 500, se considerarmos a metade oriental do império, a que chamamos bizantina, ainda que os próprios se nomeassem romanos.
Depois, temos as continuidades: o latim como língua franca erudita, o sistema de comunicações do velho império usado até quase aos nossos dias, as cidades históricas, com as relíquias de antigos edifícios públicos e sistemas de saneamento, embebidos nas actuais paisagens urbanas; um Sumo Pontífice, em Roma, presidindo aos destinos dos povos – Portugal só conquistou de direito a sua autonomia com a bula manifestis probatum.
Há ainda, historicamente, alguns afloramentos notórios: a redescoberta da arte e da literatura há 500 anos, Renascimento se lhe chamou; a revelação das cidades de Herculano e Pompeios, sepultadas pela grande erupção do Vesúvio, há 200 anos, de novo, a arte e arquitectura, Neoclássico lhe chamam; mas, pela mesma época, redescoberta política e institucional, a constituir referência para uma nova nação: Estados Unidos da América do Norte. Modelo também de todos os impérios europeus, do Sacro Império Romano-Germânico ao Terceiro Reich, passando pelo napoleónico e pelos impérios coloniais.
Longo rasto, que subsistiu como tema inspirador, da ópera ao cinema, do teatro à literatura. O latim, cada vez mais residual, ainda presente na solene prosa jurídica ou na minúcia descritiva dos biólogos e persistindo na raiz das nossas línguas; António e Cleópatra, paradigma de amores trágicos; cesarismo como modelo político; mecenas, senadores, municípios, todo um universo conceptual e lexical presente. Perene referência, ainda, da duplicidade esplendor/decadência com que gostamos de ler o quotidiano e todas as histórias.
A herança da romanidade, o império que se construiu pela força das armas, a longeva
pax romana, conservada pelos exércitos mas também o poder tolerante, a permitir ascensão à púrpura imperial de provinciais e a tolerar a diversidade cultural e religiosa.
As virtudes da frugalidade convivendo com a exuberante ostentação de novos-ricos.
Na pós-modernidade, Roma sobrevive como apontamento, frequentemente descontextualizado e incompreendido, como os pseudo frontões na fachada dos edifícios, mas sempre presente, pela diversidade de referências que comporta.
Carlos Fabião, professor associado do Departamento de História da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa.
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