Historicando

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23 dezembro 2010

História da Rússia



Desdobrando-se por dois continentes, Europa e Ásia, a Federação Russa surge como a maior nação do mundo, marcada por ambiguidades e contrastes. Berço de exaltada espiritualidade e de profundo teísmo, quando Moscovo assumiu a herança de Constantinopla e se fez Terceira Roma, o país também viveu um entranhado ateísmo estatal quando cenário da primeira Revolução Socialista da história; à paisagem predominantemente plana – ¾ do território é constituído de planícies e vales – conjuga-se a elevação majestosa dos Urais, com altitudes que ultrapassam os cinco mil metros; os centros urbanos e reluzentes como Moscovo e São Petersburgo associam-se as regiões inóspitas e as planícies geladas da Sibéria, " casa dos mortos" das recordações de Dostoievski; aos cerca de 120 mil rios que cortam a vastidão territorial junta-se a carência de saída para águas navegáveis; à longa costa regelada nos mares Glacial Árctico e de Bhering vinculam-se praias de sol e águas cristalinas na costa do Mar Negro; à contemplação passiva e silenciosa da Igreja Ortodoxa emparelha-se o activismo revolucionário dos partidos operários. Assim é a Rússia: desertos e taigas, dachas e metrópoles, amor e militância, guerra e paz convivem na imensidão de seu território, provocando e convocando ao desvendamento de seus mistérios e encantos. Sua história tem início com o estabelecimento, no território, por volta do século IX, de guerreiros e comerciantes da Escandinávia, os chamados Väringer, conhecidos como Vikings. Estes combatiam o povo local – os rus – e utilizavam os vencidos como escravos, slavs. Atribuem-se a esses invasores escandinavos a cunhagem e adaptação dos termos russo e eslavo.
O primeiro estado eslavo na região foi o Rus de Kiev, que se estendia do Dnieper até os grandes lagos. No século XI, o principado de Kiev foi dividido em vários estados, surgindo, então, outros centros urbanos importantes, como Novgorod, Souzdal e Galícia Volynia. No século XIII, a Rússia foi invadida pelos mongóis, bandos de invasores nómadas, liderados por Gêngis Khan. Depois de esmagarem a resistência das cidades separadas, as hordas invasoras promoveram enorme devastação, arruinando o fruto de séculos de trabalho, e exerceram um domínio de mais de dois séculos sobre a vida política e cultural do povo. Batu Khan, neto de Gêngis Khan, foi o responsável pela consolidação do império mongol na Rússia. Seu avô dividiu o império em quatro partes e coube a ele a parte norte; em 1242 ele estabeleceu a famosa Horda de Ouro, estado mongol formado pelo sul e leste russos. Há quem diga que a invasão mongólica foi "a experiência mais traumática do povo russo".
De 1240 a 1242, Daniel, filho do príncipe Alexandre Iaroslavitch Nevski, deteve as tentativas de invasão de Novgorod por parte dos germânicos; mas, com a derrota ante os lituanos, a hegemonia do principado de Novgorod chegou ao fim em 1370. Moscovo passou a ser o centro da nação russa. Para isso contribuem as lutas sucessórias da Horda de Ouro e a tomada de Constantinopla pelos turcos. Este último acontecimento fez de Moscovo a capital do cristianismo ortodoxo.
No século XVI, Ivan IV, o Terrível, casado com Anastácia, dos Romanov, consolidou o absolutismo na Rússia e implantou uma política expansionista. Assumiu o título de Czar ou Tzar, organizou um exército regular, submeteu os boiardos à centralização do estado e expandiu o domínio de Moscovo. Boris Godunov, seu cunhado e sucessor, apoiado na igreja, deu continuidade a sua política. Com a morte de Godunov, instalou-se uma crise sucessória. Os boiardos, se aproveitando da situação vigente, estimularam rebeliões no campo e apoiaram a invasão polonesa. Em 1612 os poloneses foram expulsos e uma assembleia elegeu o Czar Mikhail Romanov (1596-1645). Essa dinastia permaneceu no trono russo até o final do regime monárquico em 1917. Com os Romanov teve início um período de crescimento que culminou com a elevação da Rússia ao estatuto de grande potência sob o domínio de Pedro, O Grande.
Pedro promoveu um amplo programa de modernização e fundou São Petersburgo que, em 1712 se tornou a capital do império. Estimulou a indústria, o comércio, a colonização e a vinda de artesãos, artistas e literatos.
Em 1762, assumiu o poder Catarina II. Ela reforçou ainda mais o absolutismo do poder russo e promoveu a anexação de várias regiões. Com o apoio da Igreja Ortodoxa, governou com poder absoluto. No seu reinado, juntamente com a Áustria e a Prússia, a Rússia participou da partilha da Polónia, transformando-se na maior potência da Europa Oriental. Embora amiga de vários expoentes do iluminismo, Catarina era adversária da Revolução Francesa. Após a sua morte, seu filho, Paulo, sucedeu-a. Foi, entretanto, assassinado em 1801 e substituído pelo filho, Alexandre I, que recusou aliar-se ao império napoleónico. Em 1812, a Rússia foi invadida pelas forças militares do imperador corso. Os russos incendiaram Smolensk, destruindo tudo que fosse de utilidade para os invasores. Depois da Batalha de Borodino, Napoleão ocupou Moscovo e se alojou no Kremlin. Os russos, então, atearam fogo na cidade, destruindo tudo e obrigando as tropas francesas a bater em retirada. Durante cinco dias Moscovo ardeu em chamas. Sucumbindo à neve, ao frio intenso, a falta de alimentos e aos constantes ataques dos russos, os franceses protagonizaram uma das retiradas mais dramáticas da história universal. Cadáveres de soldados povoaram as desérticas estepes da Rússia, e os que conseguiam atravessar as fronteiras alemãs chegavam em condições sub-humanas, maltrapilhos, exaustos e famintos.
No final do século XIX a industrialização provocou o surgimento dos centros urbanos e dos grupos de inspiração marxista, como o Partido Operário Social Democrata Russo.
No início do século seguinte, em Março de 1917, uma revolução, liderada por um grupo moderado do partido, os mencheviques, derrubou Nicolau II e instaurou uma república parlamentar. Formaram-se os sovietes, assembleias de operários camponeses influenciados pelos bolcheviques, ala radical do Partido Operário que vai dar origem ao Partido Comunista. O desprestígio dos mencheviques por insistirem na participação da Rússia na I Guerra os faz perder o apoio popular, fato que dá a Lenine, líder bolchevique, a oportunidade de comandar uma insurreição e instaurar um governo revolucionário. Depois de quatro anos de Guerra Civil, Lenine assume o domínio sobre o País, auxiliado pelo Exército Vermelho, criado por Trotsky. Morre em 1924 e é Estaline que vai assumir o controle do PC e do governo soviético. Durante 31 anos o estalinismo vigorou na Rússia, estabelecendo um período de terror e de arbitrariedades. Milhares de pessoas foram dizimadas em campos de trabalho e morte, antigos dirigentes bolcheviques foram condenados à deportação ou ao fuzilamento sumário; perseguições e forte repressão atingiram os presumidos opositores do regime. Em 1943, entretanto, Estaline impede o avanço das tropas alemãs em território russo, na famosa Batalha de Estalinegrado. Em 1945, a Rússia emerge como a maior potência do mundo, submetendo o Leste europeu. Os Estados Unidos reagiram ao poder soviético, o que dividiu o mundo em dois blocos rivais. Esta reacção desencadeou a chamada Guerra-fria. Esse confronto quase levou o mundo a uma guerra nuclear em 1962, quando, no governo de Kruchev, que sucedeu Estaline, a Rússia pretendeu instalar mísseis em Cuba.
Kruchev promoveu uma moderada abertura política e denunciou os crimes do período estalinista. Um golpe, levado a efeito em 1964, coloca no poder Leonid Brejnev. Brejnev reprime o processo de democratização da Checoslováquia, conhecido como Primavera de Praga. E em 1978 invade o Afeganistão, decidido a intervir militarmente onde houvesse qualquer ameaça ao modelo soviético. Sucederam Brejnev, que morreu em 1982, Yuri Andropov e Konstantin Tchernenko, que também morrem após pouco tempo de governo. Em 1985, assumiu o poder russo Mikhail Gorbachev, que deu início 'as reformas que levariam ao fim da União Soviética: a Glasnost (transparência) e a Perestroika (reestruturação).
Em Agosto de 1991, Boris Ieltsin sufoca um golpe ensaiado contra Gorbachev por forças conservadoras. Sai fortalecido, mas contribui para o desgaste da autoridade de Gorbachev, que renunciou em Dezembro de 1991. Ieltsin é eleito presidente e reeleito em 1996. Em Agosto desse ano, Ieltsin nomeia Putin , do serviço secreto russo, para a chefia do governo. Em Setembro, Putin ordena a segunda invasão da Chechénia e se torna forte candidato a sucessão. Em Março de 2000, com 52, 94% dos votos, Putin vence as eleições presidenciais na Rússia.
Fonte: www.ayasofya.com.br