Já não há valores! Aí está uma afirmação que se ouve constantemente, vinda de ex-presidentes da República, bispos, professores, padres, pais e mães, educadores. De quase toda a gente.
A afirmação, porém, não é verdadeira. Evidentemente, continua a haver valores. Não é possível viver sem valores. Não há sociedade sem valores. O que se passa é que mudou a escala de valores. A hierarquia dos valores, agora, é outra.
Jesus disse que havia incompatibilidade entre Deus e o Dinheiro: "não podeis servir a dois senhores, a Deus e ao Dinheiro; ou a um ou a outro." É evidente que Jesus não condena o dinheiro enquanto tal, isto é, enquanto meio. Ele próprio teve de servir-se dele, ganhando a sua vida através do trabalho. O que se passa é que a palavra utilizada no Evangelho para dizer este dinheiro é Mamôn, isto é, o Dinheiro divinizado e fim em si mesmo. De facto, não é possível servir o Deus da Vida, que quer a vida de todos, e o Dinheiro enquanto ídolo. Quem faz do dinheiro e da riqueza o objectivo essencial da sua vida de certeza que fará muitas vítimas pelo caminho e impedirá muitos de viver.
Continua a haver valores. Mas a sua hierarquia transtornou-se e o que é meio tornou-se fim. E aí está o culto do bezerro de ouro, o egoísmo feroz, a avareza, a ganância sem limites. Mas são o dinheiro e a riqueza a finalidade última da vida? Os gregos apresentaram sabiamente a famosa lenda do rei Midas: tudo o que tocasse transformar-se-ia em ouro. Ora, quem ele tocou primeiro foi a filha. Depois, quando levava algo à boca para comer, também se transformava em ouro. E viu a sua desgraça trágica.
Precisamos é de repor uma escala decente de valores. Comecemos pela justiça, em ligação com a verdade e a igualdade; junte-se-lhe a liberdade, coroada pelo amor. Afinal, há gente riquíssima que é infeliz e quem viva feliz na sobriedade.
Por ANSELMO BORGES
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