Historicando

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09 abril 2013

Na linha da frente


Se Clausewitz nos ensinou que a guerra deve ser a continuação da política, o ministro Schãuble, na sua declaração de ontem sobre Portugal, recordou que a política de austeridade pode ser a continuação da guerra por outros meios. Não sei se a prudência do discurso do líder do PS resulta de uma iluminação súbita, mas não me parece que, até hoje, a oposição percebesse completamente o que está em causa O problema não está em substituir um governo que merece um repúdio geral. O problema é criar condições para "mudar de política". Há uma guerra Norte-Sul na Europa. E o Norte está a ganhar. Fomos educados na crença de que os Estados europeus viveriam de acordo com os jogos de soma positiva, onde todos cooperam e todos ganham. Foi assim até 2009. A partir daí, sob a batuta de Merkel, os jogos na Europa passaram a ser os de soma nula. Jogos de guerra, onde as perdas de um são os ganhos de outro. O Sul está a pagar com juros os fundos estruturais e a festa de crédito do euro. Merkel está a disciplinar não só os Estados, mas também os mercados. Hoje Portugal está mais fraco para resistir sozinho ao colete-de-forças de Berlim. As barreiras estão a ser levantadas no sistema financeiro para tornar o núcleo duro teutónico imune a um país rebelde. O véu caiu. Portugal é uma satrapia de Berlim.
O que está em causa não é derrubar uma coligação, mas reconquistar a liberdade nacional. Tudo está em aberto. Desde uma viragem federal redentora até ao desmoronamento da Zona Euro, e o doloroso regresso às derivas estratégicas e conflitos tribais europeus. O tempo é para pensar estrategicamente. Definir os fins e escolher os meios. Procurar aliados nas outras satrapias, e mesmo no centro imperial. Quando se está na frágil condição de Portugal cometer mais erros seria um crime.
VIRIATO SOROMENHO-MARQUES, Professor universitário
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