Um gel que tem como matéria-prima o próprio tecido do coração recuperou parcialmente a função cardíaca perdida após um enfarte. A estratégia, aplicada com sucesso em porcos, deve ser testada em humanos este ano, segundo investigadores da Universidade da Califórnia. Ainda não existem terapias que promovam a reconstituição do músculo cardíaco afectado pelo enfarte.
O material foi injectado no coração de seis porcos, duas semanas após terem sofrido um enfarte. Outros quatro porcos não receberam a terapia. Três meses após a aplicação, testes mostraram que os porcos que receberam o gel tinham melhorado a função cardíaca, enquanto os que não o receberam viram o seu estado agravar. Foi observada a migração de células musculares para a região que recebeu o gel, além da formação de vasos sanguíneos nas áreas enfartadas. No grupo de controlo, o tecido afectado tornou-se fino e fibroso.
Karen Christman, uma das autoras do estudo, publicado na Science Translational Medicine, observa que, quando alguém sofre um enfarte, a estrutura do músculo cardíaco degrada-se, o que faz com que novas células não tenham onde se fixar para que o tecido cresça. «Pensamos que a melhor coisa para se injectar no coração seria o mesmo que estava lá inicialmente. Então, desenvolvemos a forma líquida dessa estrutura muscular.»
Também foi constatado que o gel reduz a cicatrização, o que é importante, segundo o cardiologista Leopoldo Piegas, do HCor, porque a cicatriz que se forma após o evento prejudica a contracção cardíaca. Uma das críticas feitas ao estudo, afirma José Eduardo Krieger, director do Incor, é que os testes não foram realizados utilizando, para efeito de comparação, a medicação administrada hoje a vítimas de enfarte. Isso permitiria determinar se os efeitos do gel são superiores aos medicamentos disponíveis.
http://diariodigital.sapo.pt/news.asp?id_news=616988