Historicando

Historicando
historicando@gmail.com

28 janeiro 2013

Envelhecimento vertiginoso



Os resultados dos Censos de 2011 foram divulgados pelo INE, e as surpresas são muitas. Por exemplo, o número de famílias monoparentais subiu 36 por cento. Para Manuel Villaverde Cabral, investigador emérito do Instituto de Ciências Sociais e director do Instituto do Envelhecimento da Universidade de Lisboa, a explicação é muito simples: "Tem a ver, entre outras razões, com os novos arranjos conjugais... E o sociólogo recorda também, a propósito do facto de haver agora mais pessoas sós e mais famílias de um só pai, que Portugal "está a bater os recordes mundiais de divórcios", acrescentando que uma consequência é haver "menos casamentos formais e mais uniões de facto", Isto é, muitos já não têm vontade de se casar, para, passado algum tempo, se divorciarem e passarem pelos trâmites burocráticos e financeiros que isso implica.
Outra conclusão importante dos inquéritos é o facto de existirem 100 jovens para cada 128 idosos, e por cada 100 pessoas que se reformam só entrarem no mercado de trabalho 94. Villaverde Cabral sublinha que, desde 1982, Portugal caiu abaixo da taxa de reposição, ou seja, não consegue substituir a população que morre. E hoje tem um dos índices de fertilidade mais baixos do Planeta.
Ainda por cima, acredita, "nada de positivo foi feito em termos de políticas públicas nesta área. Estamos no caminho de um envelhecimento vertiginoso a curto ou médio prazo e de um esvaziamento do mercado de trabalho, o qual depende, obviamente, do crescimento económico". Está previsto um índice de envelhecimento entre 200 e 300 até ao ano 2050, comparado com os actuais 130: vai crescer para mais do dobro.
E desde o início do século XXI que Portugal é, junto com a Itália, um dos dois países do Mundo com menor crescimento (0% na última década) económico, afirma. Na sua opinião, a incapacidade do País para crescer financeiramente deve-se, em grande parte, ao peso cada vez maior do Estado e ao endividamento, factores que "levaram à falência do País em 2013", no âmbito da crise financeira mundial. É difícil haver piores notícias neste terreno, acredita, E sem crescimento na economia, não haverá alteração dos padrões demográficos, a não ser para pior, considera.
Para Vanessa Cunha, socióloga e investigadora do Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa, "provavelmente o tipo de família monoparental que está a crescer mais é o de pai ou mãe com filhos menores, e esta situação resulta do aumento do número de divórcios e separações, que levam, em regra, a que os filhos fiquem a viver apenas com um dos progenitores". Mas há um outro tipo de agregados monoparentais, em que há um pai ou uma mãe idosa a viver com filhos adultos, e que resulta mais de situações de viuvez. Para ela, "seria importante" perceber se estarão a aumentar as situações em que são os filhos adultos a regressar (ou a não sair) da casa do pai ou da mãe, devido a dificuldades no acesso à habitação e ao trabalho, ou após um divórcio ou separação.
De qualquer forma, as famílias monoparentais são, em mais de 80% dos casos, de liderança feminina (tanto em 2001 como em 2011), já que, em regra, os filhos ficam à guarda da mãe após o divórcio ou a separação – mas também porque há mais viúvas do que viúvos entre a população idosa, esclarece a especialista em família e fecundidade.
O aumento do número de pessoas sós, por sua vez, "é essencialmente um resultado do facto de o peso dos idosos com 65 e mais anos ser muito elevado". Daí os casos de pessoas a viverem sozinhas serem mais comuns no interior do País, onde o envelhecimento é muito acentuado, e serem compostos sobretudo por mulheres (que têm uma esperança de vida superior aos homens: elas são mais de oito em cada dez
Pessoas que vivem sozinhas). O marido morre e a mulher continua a viver, ficando só.
http://www.clipquick.com/Files/Imprensa/2013/01-28/0/5_1985571_F3D2CE3951167E975919CD3B4352859C.pdf