Historicando

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08 julho 2013

Do novo chefe do Governo

O modo como, em menos de uma semana, se passa de ministro "irrevogavelmente" demissionário a efectivo chefe de governo – controlando tudo o que é importante, das Finanças e Economia à relação com os credores – poderia ser incluído como mais um episódio do Capítulo VIII da imortal obra de Maquiavel, O Príncipe, que tem o explicativo título: "Daqueles que chegam ao principado pela perfídia."
Mas se o manobrismo político, em estado lúdico e puro, explica Portas, só a psicologia das profundezas explica Passos. Vê-lo no sábado, articulando o conteúdo do "sólido" acordo alcançado entre os dois partidos da coligação, tendo ao seu lado um Portas vigilantemente silencioso, evoca, com fulminante certeza, aquilo que o psicólogo e criminologista Nils Bejerot designou como "a síndrome de Estocolmo". Trata-se de um fenómeno que abrange cerca de 30% das pessoas que passam por situações de sequestro. Por um paradoxal mecanismo de minimização dos danos causados por uma situação de abuso, os reféns tendem a simpatizar e a identificarem-se com os seus captores. Apercebi-me disso a primeira vez, quando vi Passos transitar de adepto da mutualização da dívida europeia, a seu adversário radical, depois de meia hora de reunião com a chanceler Merkel. A dúvida que subsiste ainda é a de saber se o Presidente da República irá caucionar uma "solução" que transformará Portugal inteiro em refém da ideologia narcisista do novo chefe do Governo. Ou, dito de uma maneira mais prosaica: a questão é a de saber se Cavaco Silva vai deixar a negociação das terríveis condições de um segundo resgate entregue, precisamente, ao aventureiro político que o tornou inevitável.
VIRIATO SOROMENHO-MARQUES, Professor universitário
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