Em toda a Europa e no país se julgou por isso que a crise estava ultrapassada. Até ao dia 10 de Julho passado, em que o Presidente decidiu exigir aos diversos partidos que negociassem um acordo impossível sob a sua tutela, com eleições no prazo de um ano. Estupefactos, os diversos líderes partidários foram incapazes de dizer que não ao Presidente, mas só desejavam que esse absurdo exercício terminasse. O Presidente, mostrando em que conta os tinha, aproveitou essa negociação para visitar as ilhas Selvagens, observar osgas, pegarem calca-mares e anilhar cagarras.
Após reconhecer a óbvia impossibilidade do acordo, o Presidente fez novo discurso fazendo as coisas regressar até onde estavam a 10 de Julho, com o governo na plenitude de funções, e atirando as eleições para o fim da legislatura. O país perdeu por isso duas semanas preciosas com esta desastrada intervenção presidencial, para além das sequelas na sua credibilidade que são irrecuperáveis.
Mas a culpa não é apenas do Presidente. Os líderes da maioria são responsáveis, não apenas pela crise política em se envolveram, mas também por não terem liminarmente rejeitado a absurda exigência presidencial. Por isso, quando vemos o Presidente avisar que o governo vai apresentar uma moção de confiança no parlamento, perguntamo-nos quem de facto lidera este governo.
LUIS MENEZES LEITÃO, Professor da Faculdade de Direito de Lisboa
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