Não sou politólogo nem pretendo, mas leio a política com o interesse de um espectador preocupado com a perspectiva que os agentes económicos podem ter da leitura que fazem da política. E esta semana é anormalmente invulgar pela sucessão de acontecimentos.
Ato I — Gaspar pede a demissão. Primeiro medo: se ele soubesse ou antevisse que os números e demais resultados que aí vêm fossem bons acham que ele se demitiria agora? Não! Esperaria para recolher os louros... Tendo resolvido sair agora… Tenham medo.
Ato II — Portas pede a demissão. Bateu com a porta. Quis fazer uma jogada de mestre antecipando-se a um falhanço político e apostando que voltaria a ser a chave da governação na próxima legislatura. Só que a porta, com o vento, bateu com demasiada força e ele próprio ficou espantado com o barulho que isso fez! Os juros subiram em flecha, a bolsa caiu a pique, as empresas de rating pioraram a expectativa sobre o nosso futuro, os portugueses desanimaram, o seu próprio partido vacilou, e ele sentiu que o seu palpite lhe saiu totalmente furado. Recebeu, aposto, centenas de telefonemas de pessoas muito mas muito importantes a reclamarem a sua volta ao governo. Aposto que até a senhora Merkel lhe telefonou a dizer coisas que nem ele entendeu bem porque lhe falou em alemão, mas a julgar pelo tom e volume da sua voz a coisa deveria querer dizer: "Porte-se bem, ganhe juízo ou nunca mais será ninguém em lado nenhum do mundo! Ouviu bem?" E Portas percebeu imediatamente e também teve medo... E também vós deveis ter medo...
Ato III — O senhor Presidente da República faz um apelo aos partidos do arco da governação pedindo um entendimento para a salvação nacional.
Parece que estamos (e estamos!) em tempo de guerra... Pode imaginar-se que esta é a forma inteligente do senhor Presidente da República comprometer o Partido Socialista, de testar a sua fidelidade ao centro, a uma compensação com o que já tinha sido feito com o PSD e o CDS quando Sócrates negociou com a troika. Mas por que razão não o fez antes e só o faz agora? Seguramente que não é por saber que os números que vão sair são positivos e animadores para os mercados... O Presidente da República sabe que em 2014 se vencem Obrigações do Tesouro no valor de 13.810 milhões de euros, que nos próximos 12 meses se vencem Bilhetes do Tesouro no valor de 18.600 milhões, que há empréstimos da troika a começarem a vencer-se, que há um défice orçamental a financiar e que rondará os 7500 milhões de euros, que há resgates de certificados de aforro, e sabe que é difícil obter apoios da União Europeia para um outro resgate... Para combater os números que estimo sejam outra lástima, só uma boa notícia os poderá combater com ânimo: a unidade dos portugueses... E por isso ele a propõe.
Logo, se assim for, então tenham medo, tenham de facto muito medo.
Não sou politólogo e por isso espero enganar-me. Mas tenho medo, tenho mesmo muito medo.
João Duque, jduque@iseg.utl.pt
http://www.clipquick.com/Files/Imprensa/2013/07-13/0/5_2074165_6613D0FC35C2FA3C0534A06C9C8D01A4.pdf
Em Itália e na Grécia, em vez da alternância normal (que funcionou, em 2011, em Portugal ou Espanha), vimos dois blocos políticos a perder votos para movimentos de protesto ou novas forças. Quem aceita governos de salvação nacional é punido nas urnas.
Pedro Magalhães, pcordeiro@expresso.impresa.pt
http://www.clipquick.com/Files/Imprensa/2013/07-13/0/5_2074130_830966C5089DEF91777E17971FBE2BC2.pdf