Eusébio, seja pela determinação e vontade infindável de vencer que sempre transportou e que contagiava todos aqueles que com ele faziam equipa, seja pela humildade e simplicidade que serviram - e devem continuar a servir - de exemplo ao longo de décadas para todos os que, muito para além do futebol, sonham em ter sucesso na vida, seja pela força, pela garra e pela técnica apurada que emprestava ao jogo e que inspirou e apaixonou o mundo inteiro, tornou-se um símbolo que extravasou as fronteiras do clube e de Portugal.
Aquilo a que ontem assistimos, a união de todos os quadrantes políticos e desportivos - Sporting Clube de Portugal e Futebol Clube do Porto foram dos primeiros a reagir à morte de Eusébio -, culturais e de todos os sectores da sociedade portuguesa, a deslocarem-se em romaria ao Estádio da Luz para a última homenagem ao "Pantera Negra", revela a admiração e a gratidão de um povo inteiro por esta figura singular do desporto nacional.
Mas Eusébio foi muito mais do que um jogador de futebol. Era, tal como Amália Rodrigues, um verdadeiro embaixador de Portugal em todo o planeta. Tal como hoje sucede com Cristiano Ronaldo ou José Mourinho - e sem prejuízo das indiscutíveis qualidades que ambos têm, hoje, tempo da sociedade de informação, é muito mais fácil do que nos idos de 1960 e 1970 -, não havia (ou não há) destino no mundo em que, falando-se de Portugal, o nome de Eusébio não seja imediatamente pronunciado. Foi muito pela arte e pelos feitos de Eusébio que o País se tornou conhecido à escala global. E essa é uma dívida que nunca poderemos pagar-lhe.
Num país onde nos habituámos a elogiar apenas aqueles que morrem, há no entanto que sublinhar de forma positiva o facto de, no caso de Eusébio, ele nunca ter deixado de sentir em vida o reconhecimento dos portugueses todos por muito daquilo que lhes deu.
Ontem, o mundo chorou a partida do "rei". Nos principais campeonatos de futebol, fizeram-se homenagens sentidas com, por exemplo, os estádios ingleses a levantarem-se inteiros para homenagear Eusébio. Ouvimos Platini falar de um "dos melhores de sempre". Pelé falou dele como "um irmão". O "senhor Di Stéfano", seu ídolo de sempre, referiu-se-lhe como "o melhor de todos os tempos".
O exemplo de cidadania, o orgulho de ser português - mesmo tendo nascido na Mafalala, em Moçambique, que nunca renegou - e a forma como sempre promoveu o País colocam-no no topo das figuras maiores desta nação com mais de 900 anos de história.
Daí que o reconhecimento que Portugal lhe deve não possa deixar de passar pela sua ida para o Panteão Nacional, na certeza de que as lendas como Eusébio vivem para sempre.
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