Passámos a achar natural viver num universo onde a economia é considerada um absoluto ao qual toda a sociedade tem que obedecer. Como a economia são números e regras “objectivas”, tudo o resto passa a ser excluído da realidade.
O problema, naturalmente, não está na economia, uma ciência com limites, ainda que esforçada. Está na transformação da economia numa ideologia que ignora os seus limites e exclui todas as outras maneiras de pensar. E que, tal como as ideologias totalitárias do passado, passa a viver na convicção de que a ideologia e a realidade são a mesma coisa.
Por outras palavras, é a negação da democracia e a sua substituição por uma tecnocracia desumanizada, cujo modelo de sociedade é um exercício contabilístico onde as contas têm que bater certo, seja qual for o preço que a sociedade tenha de pagar.
Essa transformação começa na linguagem. A partir da linguagem, transforma-se na única racionalidade possível dos decisores políticos. A seguir, num mecanismo de exclusão. No plano das ideias, os que não partilhem as subtilezas da técnica estão fora do debate. No plano social, os indivíduos que não conseguirem adaptar-se ficam de fora. Isso não significa que vivamos, hoje, numa sociedade totalitária. Significa que há procedimentos muito parecidos com os do totalitarismo que estão a ser aceites por democracias que se tornaram reféns desta ideologia.
A desumanização do totalitarismo começava na crença da absoluta racionalidade de uma ideologia, fosse o comunismo ou o nazismo. Na Europa em crise, os valores democráticos estão a ser imperceptivelmente substituídos por uma desumanização tecnocrática, por uma ideologia que reduz tudo a uma técnica. Incluindo a lei. É esse o risco.
http://www.publico.pt/opiniao/noticia/abaixo-o-empreendedorismo-viva-a-deseconomia-1613201