Historicando

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23 novembro 2013

Portugal não devia esforçar-se tanto por agradar, mas por irritar toda a gente ao máximo

O Ronaldo é muito irritante. O modo como corre mais do que os outros irrita todos os que ficam para trás. O modo como festeja, à matador, irrita os que, estocados, jazem por terra. O modo como olha, de viés, os repórteres que lhe fazem sempre perguntas previsíveis e imbecis, irrita. O modo como se exibe, escultural e em cuecas, em anúncios de roupa interior, irrita tudo o que é balofo. O modo como se penteia irrita os carecas. O modo como é diferente irrita.
Ninguém faz nada de diferente sem irritar muita gente. Ronaldo não imita ninguém. Não imita Maradonas nem Pelés nem Cruijffs. Ronaldo é Ronaldo. Ninguém joga como ele joga; nem ele joga como alguém alguma vez jogou. Isto é ser original. Único. Nunca ninguém teve este estilo. Nunca ninguém correu como ele. Nunca ninguém bateu os recordes que ele bate todos os dias.
Não se consegue nada de diferente sem irritar muita gente. Mozart irritou o Salieri, Almada irritou o Dantas, Duchamp irritou toda a gente, Hemingway irritou o Faulkner, Steve Jobs irritou a IBM. Não há progresso, invenção, génio e glória sem irritação.
Que bom seria que Portugal fosse mais como o Ronaldo, mais diferente. Em vez de se esforçar por agradar, devia antes tentar irritar toda a gente.
Por Pedro Bidarra
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