Adriano Moreira concedeu ao Diário de Notícias e à TSF uma notável entrevista. Aos 91 anos de idade, o professor conserva pleno vigor intelectual, combinando o seu interesse pelo novo com a experiência única de continuar a ser um observador interveniente num mundo e num país em mudança. Adriano Moreira vê a política num horizonte de longo prazo, e numa esfera tão ampla como o mundo. Mais nenhum pensador insiste como ele no facto de que Portugal iniciou em 1974 uma aventura inédita, pelo menos desde 1415. Com o fim do Império, como parte do crepúsculo do Euromundo, Portugal regressou à Europa de corpo inteiro. Para o professor, a prudência teria exigido um novo "conceito estratégico", teria aconselhado a não esquecer que a novel "cooperação" entre Estados europeus poderia ser um verniz facilmente rasurável pela ressurreição das garras dos directórios que sempre nasceram da tradicional "balança da Europa", onde é o peso bruto e não a razão argumentativa que inclinam os pratos. Deveríamos ter explorado melhor "as janelas de liberdade", como a CPLP e o Mar, não contra a Europa, mas porque não podemos rejeitar o capital da nossa história e da nossa geografia. Não deveríamos ter esquecido que existem as Nações Unidas, e a sua esperança de legalidade internacional... Mas o que torna Adriano Moreira numa personalidade europeia única é algo que não se pode clonar: a inteligência habitando na integridade de carácter. Ao contrário de tantos que são menos do que os lugares que fugazmente ocupam, este homem, que foi conselheiro de Príncipes e chefe de partido, sempre transbordou dessas funções, nunca se deixando contaminar pelas "forças diabólicas" que a política, citando Weber, sempre transporta.
por VIRIATO SOROMENHO MARQUES
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