Lembram-se de aqui á poucos dias atrás o primeiro-ministro Dr. Pedro Passos Coelho ter ido a Bruxelas, a uma reunião com uns senhores da Europa discutir o orçamento europeu para o período 2014 / 2020?
E que o nosso Primeiro avisou os ditos senhores, pela comunicação social portuguesa, que ou davam o mesmo “bolo” ou vetava a proposta? E que no fim da dita já dizia “vamos ver…”
Perceberam a trama em que estamos envolvidos? Não? Então leiam este artigo:
A União Europeia, vista de fora, deve causar a maior das perplexidades. Deixou de ter um discurso coerente e produz no seu seio uma tal multiplicidade de mensagens de sentido oposto, que um politólogo russo, chinês ou norte-americano ver-se-á em palpos de aranha se quiser vaticinar a linha de acção dominante nos próximos tempos.
A nível político, surgem vozes autorizadas a preconizar o reforço da união política da Europa. Chega-se ao ponto de propor, já para as próximas eleições europeias, em meados de 2014, a eleição directa do presidente da Comissão Europeia! Mas, ao chegar ao terreno prosaico de quem financia, quanto e para quê, nos sete anos seguintes de existência da UE, com a sua administração e as suas políticas integradas, essa miragem de compromisso reforçado entre 27 Estados quebra-se em dois. As minudências negociais tornam-se especiosas. Atiram-se verbas com muitos zeros: o Reino Unido – com os seus eurocépticos cada vez mais fortes e apostados em afastar o país do 'continente' – não quer um Orçamento para a UE, entre 2014 e 2020, superior a 940 mil milhões (0,98% do PIB da UE27). Suécia e Holanda, doadores com políticas internas austeras, se possível, até gostariam que fosse menos. A Alemanha, num enorme esforço de compromisso, admite ir até 963 mil milhões (1% do PIB europeu), aproximando-se da última proposta avançada por Herman van Rompuy – 973 mil milhões de euros, 1,01% do PIB da Europa.
Os países da coesão, com o Parlamento Europeu e a Comissão como aliados, argumentam ser nesta altura de crise particularmente vital não acrescentar cortes comunitários aos cortes nacionais nas políticas de fundo para o crescimento e o emprego. Mas ficou claro nesta ronda negocial em Bruxelas, que estão descentrados: o verdadeiro regateio é conduzido entre os países contribuintes líquidos, faz-se à volta de três ou quatro décimas de ponto percentual e os beneficiários das verbas não terão nem sombra de capacidade para vetar seja o que for.
Mas ninguém duvide: em Janeiro, perante o inevitável compromisso alcançado, alguém dirá ao mundo que a UE está a emergir mais forte que nunca de novo embate épico.
Por António Perez Metelo
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