Historicando

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08 maio 2013

O juízo da História


Em plena II Guerra — Mundial, no decurso da Conferência de Teerão (1943), Churchill terá confiado a Roosevelt: "A história será bondosa para mim, pois eu tenciono escrevê-la." A preocupação com o juízo da memória partilhada, a que chamamos história, é comum em todos os agentes políticos que meditam sobre o seu próprio papel.
Mas não é difícil ser, mesmo sucessivamente como foi o caso de Churchill, actor e cronista da acção.
Paulo Portas, ao comentar as medidas de austeridade do Governo de que faz parte, 48 horas depois da sua apresentação pelo primeiro-ministro, parece querer ir mais longe do que o lendário estadista britânico. Portas parece pretender escrever, simultaneamente, a história enquanto esta se realiza também com o seu contributo. Pretende salvaguardar o seu quinhão pessoal na memória pública, mesmo antes de a sua acção ter revelado todas as consequências.
Não restam dúvidas de que Portas está muitos escalões acima da gente cinzenta que com ele mora num dos mais nefastos governos da história de Portugal. Contudo, nenhum golpe de mágica pode iludir a dilaceração pessoal de Portas. Ele partilha, aparentemente, com os grandes e raros estadistas, um poder que habita nos limites. Eles dão nome a novos ciclos, a novas idades. Portas, no entanto, tem, por agora, apenas um poder terminal, escatológico. Pode matar este Governo no instante em que o desejar.
Mais incerto é saber se terá o poder de iniciar ou contribuir para uma alternativa capaz de fazer sair Portugal deste labirinto de mortal abjecção.
VIRIATO SOROMENHO-MARQUES, Professor universitário
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