Historicando

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10 maio 2013

Juntos, na União ou na fragmentação


Entre 2007 e 2013 desvaneceu-se o mito da terceira via. Dizia-se, durante décadas, que a Europa saída da guerra iria construir, com os "pequenos passos" de Schuman e Monnet, um novo corpo político que não seria nem um mero sistema internacional (onde a lógica do mais forte acaba por prevalecer) nem uma união federal (que a avareza dos governantes nacionais sempre considerou um remédio demasiado amargo).
A União Europeia seria uma inovação radical na história, retirando o melhor da coesão cultural, que se apura no seio das nações, e o melhor da solidariedade, que só é possível no seio da partilha federal de soberania.
A dura verdade, posta a nu pela "crise da dívida", é a de que a Europa continua a ser, dominantemente, um sistema internacional onde os actores são Estados, fazendo jogos de soma zero, em que os mais fracos perdem para os mais fortes. Os tratados e instituições comuns são meros instrumentos, válidos enquanto não prejudicam os supostos interesses dos Estados que apresentam os activos mais sólidos e convincentes, sobretudo económicos. Os povos e os cidadãos continuam na margem do palco europeu, impotentes para expressar com utilidade a sua voz, ou sequer a sua angústia.
Passaram quase setenta anos desde que as armas se calaram nas margens do Reno e do Danúbio. Eis-nos regressados, pela terceira vez num século, ao drama de uma"Europa Alemã". O mais grave é que em Berlim poucos aparentam ter consciência de que isso deveria ser um sinal de alerta para o tsunami que se aproxima. A hegemonia germânica hoje é económica, mas a degradação das assimetrias de força entre os Estados pode fazer estalar o verniz, mais depressa do que se julga.
Hollande nunca o fará, mas Marine Le Pen, num futuro que espero jamais venha a ocorrer, não hesitaria em recordar a Berlim que a base última do poder efectivo está sempre na ponta das baionetas, que hoje são os arsenais nucleares. Essas baionetas falam inglês e francês. Jamais falarão alemão.
Mas a sorte dos alemães está ligada à sorte de todos os outros europeus. É claro que teremos muitos e graves problemas a solucionar, começando na refundação da União Económica e Monetária, e na reforma política de uma Europa que se cristalizou em instituições e rotinas contrárias ao republicanismo e à democracia. Mas a questão vital passa por aceitarmos que, como europeus, constituímos uma comunidade de destino. Estamos condenados a ficar juntos. Seja na vitória sobre preconceitos e rancores, criando uma Europa federal, governada por leis e cidadãos, unida na sua pluralidade perante os titânicos desafios do futuro. Seja no abismo de pobreza e violência a que o regresso a uma Europa da "balança do poder", cega pelo ódio, acabaria por nos lançar.
VIRIATO SOROMENHO-MARQUES, Professor universitário
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