Historicando

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17 maio 2013

A revolta…


Clareza e transparência têm andado afastadas das reformas. É preciso começar a explicar bem.
Não há nada mais incerto e confuso do que a nossa folha de ordenado no final do mês. Alguém a entende? Com tantos cortes e remendos, são poucos os que ainda conseguem saber com exactidão quanto vão receber de salário. A única certeza é que será cada vez menos. Vamos ter subsídio de Natal ou de férias? Os dois. Espera! Afinal, o de férias passa a ser o de Natal e o de Natal recebe-se nas férias. Temos de pagar mais impostos para ajudar os que mais precisam. Mas então porque é que os que recebem subsídios e reformas muito baixas têm também eles de pagar ao fisco?
É assim que estão a ser comunicados a reforma do Estado e o equilíbrio das contas públicas. Explicar mudanças dolorosas deveria ser uma das principais preocupações de quem decide. Clareza e transparência levam a um melhor entendimento do que se está a fazer e porque se está a fazer. Infelizmente, cada vez que um dirigente faz uma comunicação sobre novas medidas, quase todos nós, jornalistas incluídos, precisamos de recorrer a um manual de instruções. As mudanças que estão a ser feitas não são fáceis, mas a forma como estão a ser apresentadas ainda as faz parecer mais complicadas e sobretudo mais pesadas.
A oposição também não apresenta melhor folha de serviço. Não quer o memorando mas vai cumprir as metas impostas. Não quer austeridade mas defende equilíbrio nas contas públicas. Quer fazer crescer a economia e criar empregos mas promete pagar todos os empréstimos. Quer manter a qualidade dos serviços públicos mas defende que se tem de cortar nas despesas do Estado.
No meio desta confusão estão milhões de portugueses que querem encontrar algum sentido mas não conseguem. No caos, muitas vezes mais do que a luz nasce a revolta. Sem amparo nem explicações, crescem as angústias e os ódios. Por isso é urgente que quem decide perceba que tão ou mais importante do que as medidas e as reformas é necessário explicar bem. Todos os nossos políticos têm acesso diário (até demais) às televisões, rádios e jornais. Mas depois de falarem - muito - tudo parece ficar ainda e sempre mais embrulhado e confuso.
Vem nos livros que a ignorância do povo pode ajudar, durante algum tempo, a iludir as falhas do poder. Mas ensina-nos também a História que, quando se deixa de explicar e responder, nasce a desconfiança, quebra-se a autoridade, aumenta a contestação e o perigo de revolta.
Se alguns dos nossos dirigentes pensassem um pouco mais nisto, talvez fizessem menos comunicações e dessem mais explicações. Ainda por cima quando em Portugal estão cada vez mais na moda conferências de imprensa originais. Os políticos chamam agora os jornalistas, mas “sem direito a perguntas, por favor!”. Têm medo de quê?
João Adelino Faria, Pivô e jornalista da RTP
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