Historicando

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28 maio 2013

Diplomacia de caridade

É positivo que as empresas portuguesas possam receber apoio do banco de fomento alemão, KfW. É importante que o ministro Schãuble se preocupe com os jovens desempregados em Espanha e em Portugal. Mas que a Alemanha resolva adoptar medidas bilaterais avulsas em vez de mudanças sistémicas na sua estratégia é apenas mais um episódio da tragédia europeia em curso.
O fracasso da liderança alemã na resposta à crise é duplo. Em primeiro lugar, teme emendar as causas estruturais que aprofundam a actual fragmentação financeira na Zona Euro, o que leva a que, por exemplo, uma empresa alemã medíocre tenha acesso a um crédito muito mais barato do que uma empresa portuguesa, mais inovadora e com mais potencial. Em segundo lugar, Berlim procura negar a sua paternidade na prossecução duma austeridade que no fim da estrada poderá levar os países "periféricos" à indigência, e os seus credores a arcarem com um monumental calote. Os empresários portugueses receberão os empréstimos a uma taxa de juro ligeiramente superior à da dívida pública alemã. Com isso, ficarão também contentes os exportadores alemães, representados na associação das câmaras de comércio (DlHK), que manifestaram o seu pessimismo com a queda das exportações para a Zona Euro (que regrediu 0,2% no primeiro trimestre). Mas haverá que seguir um ritual de vassalagem: o Bundestag tem de dar um aval formal. A boa vontade da iniciativa alemã apenas sublinha que passámos, na Europa, da lógica multilateral entre Estados iguais para a lógica bilateral da balança de poder entre potências desiguais. O federalismo, sempre evitado por retirar poder aos governos para o conceder aos cidadãos, deu lugar à diplomacia de caridade da potência hegemónica para com os seus protectorados.
VIRIATO SOROMENHO-MARQUES, Professor universitário
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