Na Grécia já não há salários no funcionalismo público acima dos 2700€. No caso das reformas ainda deve ser um valor menor. Mais tarde ou mais cedo a troika também vai impor a sua vontade nestes aspectos.
A principal causa da situação em que nos encontramos se deve à gestão irresponsável dos nossos governantes, à desenfreada (e despudorada) corrupção que graça no país e à crescente (e conscientemente promovida) desigualdade social.
É verdade que o regabofe vem de longe. Mas é inequívoco que a explosão de regabofe se deu nos últimos 10-15.
Não foi o Estado Social que deitou o país a perder: foi uma classe política corrupta que andou a gastar em benefício próprio o dinheiro que todos demos para que esse Estado Social existisse, porque faz sentido que exista.
Pensava que este governo iria diminuir serviços para reestruturar verdadeiramente, mas parece que não, cortar-se-ão salários até o Estado e o país ficarem numa anarquia. O país é demasiado pequeno, a promiscuidade entre privados, públicos e políticos em geral, não permite qualquer reestruturação, o Estado Social cairá de PEC em PEC até não restar nada – A corrupção legalizada das PPP, os contratos leoninos com os concessionários das SCUT, a nacionalização dos prejuízos do BPN, o desvario da Madeira (defendo que as regiões autónomas sejam extintas. Face ao desenvolvimento das telecomunicações e dos transportes já não se justifica tal coisa), a venda ao desbarato das empresas públicas, etc.
Com um povo desinformado, intoxicado por uma comunicação social que serve para propagar o pensamento único da troika, já preexistente e agora transformado em religião, a tarefa da comissão liquidatária está facilitada. Basta ver como, nas entrevistas de rua e nos inúmeros programas que permitem a todos dar opiniões, todos reproduzem, sem pensar, frases como “gastámos acima das nossas possibilidades” e “a austeridade é necessária”, como se a austeridade alguma vez tivesse sido desnecessária.
Diante de tudo isto, desta comissão liquidatária que faz de conta que acredita na livre iniciativa e na auto-regulação dos mercados, seria importante que, no mínimo, os cidadãos se inspirassem na frase de João Magueijo: “Há a possibilidade de ser tudo ao contrário do que pensamos.”