Historicando

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24 outubro 2011

“Alerta de que as coisas estão a ir longe demais” e "Os cágados que falam"

“Alerta de que as coisas estão a ir longe demais”
Pereira Cracel, Presidente da Associação de Oficiais das Forças Armadas, fala sobre declarações de Vasco Lourenço.
Correio da Manhã – Revê-se nas declarações do coronel Vasco Lourenço ao dizer que "há um PREC [Processo Revolucionário em Curso] da direita"?
Pereira Cracel – Vamos ter um novo paradigma. O que as pessoas estão a sentir, os militares em particular, é uma situação de revolução relativamente a uma série de questões que põem em causa muito do que foi assumido como definitivo na Revolução do 25 de Abril.
– Mas revê-se nas palavras do presidente da associação 25 de Abril a manifestar o desejo de que os militares tenham a força para dizer não à repressão?
– Sim, sim, sim.
– Além da concentração de 12 de Novembro, é expectável que existam mais protestos no mês de Novembro?
– Para já, temos previsto a iniciativa de 12 de Novembro. Agora, nós, militares, já não olhamos apenas a questões que nos afligem directamente. O que nos começa a preocupar, num contexto mais geral de desmantelamento do Estado, tal como o entendemos, é que fiquem embrulhadas também as Forças Armadas, e se pretenda desarticulá-las.
– Na reacção na rua os militares estarão ao lado da população?
– Nessa reacção, os militares poderiam, à partida, estar ao lado da população.
– Não poderia configurar uma espécie de golpe de Estado, uma nova revolução?
– Estamos a falar de meras conjecturas. Não assuma isto como qualquer apelo nesse sentido. É apenas um alerta de que as coisas estão a ir longe demais.
– Não interpretou as palavras de Vasco Lourenço como um qualquer apelo à revolução?
– Um alerta. O coronel Vasco Lourenço não é uma pessoa irresponsável. É uma pessoa que é, de algum modo, impulsiva e ao fazer essas declarações estaria a fazê-lo como um alerta.
Por: Cristina Rita, CM – 24/10/2011

Os cágados que falam
Mete dó ouvir tanta gente com carreira, poder e fortuna – boa parte também à custa da generosidade do Estado que agora tanto desprezam – aplaudir com entusiasmo o pesado fardo da austeridade.
Não se imaginam nas urgências de um hospital público: têm seguro e dinheiro para o conforto da assistência privada. Muito menos se vêem num autocarro ou comboio: têm carro e motorista.
Não lhes importa, enfim, que a administração pública deixe de pagar os subsídios de férias e de Natal – medida que muito gostariam que se estendesse às empresas. Reconheço um pozinho de demagogia nesta crónica. Mas esta gente chateia--me. Muitos deles são como o cágado alcandorado na árvore: não treparam, alguém os pôs lá.
Por: Manuel Catarino, Subdirector CM – 24/10/2011