Historicando

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16 junho 2013

Ups, enganei-me outra vez

O FMI enganou-se na Grécia, fez mal as contas. Foi a história da semana. O desemprego era 15%, passou a 25%. O PIB que só caía 5,5% entre 2009 e 2012, descambou 17%. A Grécia estava gorda mas ficou magra de mais, admite agora o Fundo num relatório interno onde assume os erros de análise. Aí diz o que o mundo já tinha percebido: há vida para além da austeridade - mas é bastante mais negra do que tinham prometido.
No final do dia, não há grande remédio: o economista dentro do FMI dirá que o problema estava nas previsões e que faria o mesmo outra vez. Felizmente, nós sabemos que o problema vai mais fundo, directo à confiança política, directo ao Excel de Gaspar. Sem bons cálculos não há boas teorias, não há bons planos, não há a austeridade certa, não há discurso político que se aguente. É este o problema de Passos como é o problema do FMI. E não é político, como tenta puxar o PS, mas contabilístico.
Uma semana depois de apresentar o Rectificativo, o governo viu o INE confirmar que a recessão no primeiro trimestre foi de 4%. E nem é preciso muito para perceber que ainda vai correr pior: na quinta já o BCE revia a sua depressão para a zona euro para números duas vezes mais deprimidos do que os do Rectificativo.
Com tudo isto, é difícil não ouvir Passos Coelho sem sorrir. Na Amadora, com uma campanha autárquica a correr por trás, Passos puxou de um chavão – “Vamos resgatar a nossa soberania” – e com os olhos em 2014 ainda atirou outra: “O ajustamento que o país tinha de fazer está feito.” Acreditando nos números e nas profecias, nenhuma das duas bate certo. Portugal ainda não resgatou a soberania porque ainda não cresce o suficiente para pagar a dívida que tem. E o ajustamento não está feito porque a fatia principal da despesa - a reforma do Estado - continua guardada no calculismo político de Portas. “Ninguém fora de Portugal tem dúvidas de que vamos conseguir”, disse Passos. Esqueceu-se de quem tem cá dentro – e dos banqueiros que garantiram, esta semana, que essa mesma dívida pode não ser sustentável.
Se juntarmos tudo percebemos o erro geral, os cálculos enviesados, as equações que não terminam, a recessão que ninguém controla. O FMI enganou-se nas contas e afundou a sua teoria de austeridade. O erro, dirá o economista, é normal. A virtude está em saber o que se faz depois.
Por Miguel Pacheco
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