Historicando

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07 junho 2013

O triunfo do Governo

O maior problema nacional não reside nos riscos acrescidos de eleições antecipadas. Essa visão erra por subestimar os danos que esta governação está a causar ao País, em três frentes. Primeiro, no confrangedor contraste entre o optimismo febril numa recuperação sempre adiada, e a brutalidade sempre mais eloquente dos factos negativos. Por exemplo, mencionei num artigo recente 300 000 novos desempregados, mas, afinal, os dados do 1.° trimestre elevam para 434 800 os empregos destruídos! Segundo, e mais grave dano: este governo vai deixar passar em branco a oportunidade política extraordinária para renegociar todo este aviltante processo de chantagem política sobre uma nação, chamado memorando de entendimento, representada pelo extraordinário (e raríssimo) documento de autocrítica do FMI à sua intervenção na Grécia, cujo ADN se repetiu também em Portugal. Terceiro e pior prejuízo: este governo já contaminou o debate sobre o futuro do País depois do seu próprio derrube. Parece começar a desenhar-se o consenso de que, em cima da mesa, existem apenas duas alternativas: beber a cicuta da austeridade ou preparar a saída da Zona Euro. Se existissem apenas esse dois caminhos, é claro que sair do curo seria menos mau do que sangrar até à morte. Mas será que estamos dispostos a perder tudo o que a escala europeia significa sem uma luta firme?
Será que não seremos capazes de ajudar os alemães a compreenderem que o seu interesse como povo não coincide com a política do seu Governo? E mesmo, se isso falhar, desistiremos de contribuir para uma Europa Latina? Levar os portugueses a pensarem que têm de escolher entre uma Alsácia meridional ou uma espécie de Albânia de Enver Hoxha será talvez o maior triunfo de um governo que a todos nos envergonha.
VIRIATO SOROMENHO-MARQUES, Professor universitário
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