Historicando

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18 dezembro 2011

Ainda vamos a tempo?

Só passou uma semana, mas o acordo que saiu da última cimeira de Bruxelas está quase enterrado. Em poucos dias, os mercados reagiram, os juros da dívida subiram e a Zona Euro voltou ao pesadelo. Já não interessa o que ficou em Bruxelas, mas sim o que ainda pode ser feito – a curto prazo – para que o euro consiga respirar. Três sugestões:
1) Eurobills, não eurobonds. É uma das sugestões mais interessantes das últimas semanas. A teoria é simples: e se, em vez de dívida pública a longo prazo (eurobonds), a Zona Euro assumisse o mercado de dívida de curto prazo (emissões de bilhetes até um ano)? O modelo funcionaria assim: no início do ano, cada Estado apresentaria o seu calendário de emissões. Sabendo de antemão de quanto precisariam os Estados, uma entidade (Gabinete de Gestão de Dívida, CGD) emitiria dívida nos mercados que utilizaria depois para comprar (a preços controlados) o que saísse de cada um dos leilões nacionais. Com isso reduzia o risco financeiro (eliminava as flutuações nos leilões), controlava o risco moral (só os países equilibrados podiam ter acesso) e retirava da equação os especuladores externos.
2) Reestruturar a dívida. A "bomba atómica" e "vamos pôr as pernas dos bancos alemães a tremer" são exageros de linguagem, mas o problema é sério, como o FMI assumiu esta semana. Em Novembro, Bruxelas trabalhou no cenário (surreal) de que os investidores concordavam com um corte de 50% nos títulos. O acordo ficou em águas de bacalhau e ainda esta semana os investidores privados insistiam em três pontos: 1. os governos que compraram dívida também vão sofrer com esta desvalorização forçada; 2. a nova lei deve proteger, dizem os privados, de novos cortes unilaterais; e 3. Todos querem ser compensados no futuro acertando já as taxas de juro. Como nada disto parece provável, o FMI abriu esta semana a porta a uma reestruturação "induzida", celebrando por contrato um corte organizado na dívida grega – e possivelmente dos outros periféricos. Sem isso – e se todos mantiverem o euro como moeda única – as hipóteses de sucesso são mínimas.
3) O BCE, sempre o BCE. Dizia esta semana um governante italiano: "Desistimos das antigas válvulas da inflação e desvalorização para termos taxas de juro baixas. Agora, nem isso." Ao BCE pede-se que olhe menos para o controlo monetário e mais para a liquidez dos bancos e dos Estados, abrindo espaço para uma entrada agressiva nos mercados de dívida pública. No último mês, o BCE foi generoso para os bancos, criando liquidez a três anos que estes utilizaram – em muitos casos – para comprar dívida soberana. O truque resultou, mas é uma ficção. Está na altura de o BCE assumir uma intervenção directa, imprimindo e dispersando dinheiro. Nem é muito radical: a Fed americana já faz o mesmo.
http://www.dinheirovivo.pt/Artigo/CIECO026593.html?page=1