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25 setembro 2013

A fadiga

Na sua conferência em Lisboa, Nouriel Roubini chamou a atenção para um fenómeno perturbador na zona curo: a fadiga. Nos países do Sul verifica-se a fadiga da austeridade. As pessoas não compreendem a razão de tantos sacrifícios quando o resultado tem sido apenas o aumento da recessão e da dívida pública.
Já nos países do Norte, verifica-se pelo contrário uma fadiga do resgate. Os contribuintes receiam cada vez mais ser chamados a pagar com os seus impostos sucessivos resgates a países por cuja dívida entendem não ser responsáveis.
A fadiga caracteriza-se pelo facto de o corpo deixar de conseguir funcionar ao seu nível normal, devido a uma percepção ampliada do esforço a que é sujeito. Também os países europeus não estão preparados para funcionar num quadro radicalmente diferente do que é o seu funcionamento habituai. Em Portugal os cidadãos desesperam: a aumentos de impostos até ao limite do suportável acresceram cortes de salários e pensões de forma tão elevada que a maior parte das pessoas deixou de conseguir honrar os seus compromissos, entrando em insolvência.
No século XIX surgiu a denominada questão social, provocada pela "incrível miséria da classe operária". No século XXI estamos confrontados com uma nova incrível miséria, desta vez a da classe média nos países resgatados. Ou a Europa consegue arranjar uma solução para este problema ou o vendaval dos primeiros anos do século XX pode bem repetir-se cem anos depois.
LUÍS MENEZES LEITÃO, Professor da Faculdade de Direito de Lisboa
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