Historicando

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11 outubro 2013

O Bloco é um luxo

Os portugueses começaram a ajustar-se à realidade de forma drástica logo em 2011. Nesse ano caíram a pique as vendas de automóveis, máquinas de café, televisores, consolas de jogos, vinho, cerveja e restauração. Nesse ano caíram também a pique os votos no Bloco de Esquerda: 50% (tanto quanto os automóveis). Um ajustamento que, a avaliar pelos resultados das autárquicas, parece continuar.
Será o Bloco um luxo político sem sentido em tempos de escassez? Um supérfluo que não resiste à frugalidade dos tempos? Serão as sua causas fracturantes as carteiras Chanel da política?
Eu acho que sim. É uma intuição, uma hipótese extrapolada dos resultados da investigação do Consumer Intelligence Lab sobre as tendências de mudança do consumidor português; que é também consumidor, embora cada vez menos, das marcas da política.
A partir de 2011 os gastos supérfluos foram à vida, a poupança começou a aumentar e a frugalidade começou a impor-se como necessidade. Hoje, 49,8% dos portugueses afirmam que “ser menos consumista é uma forma de estar com que se identificam” (The Consumer Intelligence Lab, 7/2013).
O Bloco, alcunhado no passado de esquerda caviar, foi preterido pelo mais frugal PC; que também é um luxo (ter um partido utópico que tem por objectivo a implantação do comunismo é sempre um luxo para uma democracia) mas um luxo popular. Como as ovas de sardinha.
As causas tradicionais do Bloco, os alicerces da sua identidade, poderão, no contexto actual, ter passado de fracturantes a extravagantes e daí a supérfluas. Se assim for, e esta é a verdadeira ironia do destino, a sua sobrevivência dependerá da melhoria da economia, ou seja, do sucesso do governo. Só se voltar a sensação de abundância, e com ela a extravagância e o luxo, poderá o Bloco voltar a crescer.
Por Pedro Bidarra
http://www.dinheirovivo.pt/Buzz/Artigo/CIECO281450.html?page=0