Hodie mihi, cras tibi. "Artigo 19.° Todo o indivíduo tem direito à liberdade de opinião e de expressão, o que implica o direito de não ser inquietado pelas suas opiniões e o de procurar, receber e difundir, sem consideração de fronteiras, informações e ideias por qualquer meio de expressão." Declaração Universal dos Direitos Humanos
13 maio 2007
Os Livros da Minha Vida II
O que é que se sabe quando se sabe demais? Sabe-se de menos. Não no sentido socrático do “só sei que nada sei”, mas no sentido de que há “saberes” que se perdem, a começar pelo da inocência. O dilema da minha geração, que é fácil reconhecer neste livro, é que ao mesmo tempo que se queria saber tudo (e durante uns anos poder tudo), não se queria perder a inocência, vivia-se na nostalgia de um mundo perfeito e original, que conheciamos dos livros e do cinema, mas que éramos incapazes de sentir, só de “imaginar e ficcionar”. Por isso, a geração dos anos sessenta foi ao mesmo tempo incapaz de ter emoções simples, de ser “genuína” e de ter frieza na razão, de ser cínica. Voltou-se para a utopia, essa perigosa procura de perfeição. Nunca produziu verdadeiros casos de gente a “falar como eu respiro”, nem de cínicos, mesmo depois de velhos, porque é uma geração que envelhece mal. As suas criações ficaram sempre nesse hiato de dois desejos, desses mundos do perfeito sentimento e da perfeita racionalidade, que procurava com afinco, para ser o que não era. Sabia demais. Acabou por isso por mudar mais a História do que a criação, mais a vida quotidiana do que a poética, mais os outros do que a si próprio.