Positivo é que Portugal se desenvolveu, acabou a guerra colonial, que era um problema complicado, acabou o isolamento internacional, ganhámos a liberdade, económica e política. O país desenvolveu-se muito em infraestruturas, acabou a exclusão escolar, mas criámos um monstro constitucional, dando todo o poder de intervenção política aos partidos, criámos o monopólio aos partidos. O cidadão fora dos partidos não tem nenhum poder, a não ser o de votar de quatro em quatro anos. Ora isto foi fatal, tal como tinha acontecido na I República. E nós já devíamos estar avisados. Os partidos deixaram de cumprir, a pouco e pouco, a sua verdadeira função de manter a democracia activa e dinâmica e forte para enveredarem por uma democracia meramente formal, em que eles têm todo o poder. Pouco a pouco, utilizaram esse poder a seu favor e criou-se, em Portugal, uma coisa, que aqui é mais forte e mais evidente do que noutros países, mesmo europeus: uma verdadeira classe política, no sentido classicista do termo.
Portanto, se quiser, abastardou-se o ideal democrático do 25 de Abril, o ideal do povo para o povo e pelo povo, que é o ideal democrático e temos agora dos partidos para os partidos.
Henrique Neto, http://www.oje.pt/pt/henrique-neto-%E2%80%9Cabastardou-se-o-ideal-democratico-do-25-de-abril%E2%80%9D
