Historicando

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01 outubro 2013

"Gostava de pôr a Alemanha fora do euro”

Enquanto insistirmos na política de austeridade, o único resultado que vamos ter é mais desemprego, mais desemprego e mais desemprego". O alerta é feito por Paz Ferreira, um dos oradores do seminário "A cidadania europeia e os desafios da empregabilidade", que se realiza na próxima sexta-feira no Centro Cultural de Belém. Para o professor catedrático da Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa (FDUL), "a política de austeridade não conduz a lado nenhum". "Vamos matar mais algumas pessoas para tranquilizarmos os mercados", sublinha O também presidente do Instituto de Direito Económico e Fiscal da FDUL aponta o paradoxo: "O próprio FMI tem vindo a publicar textos que relativizam os efeitos económicos da austeridade, mas na sua actuação a 'troika' insiste neste discurso. Se calhar a informação não circula dentro do FMI".
Hoje, com o desemprego a atingir "valores incomportáveis e dramáticos, a empregabilidade tem que ser a questão fulcral". Um problema que não é "uma mera questão técnica e que terá que ser lido num contexto mais amplo que é o de saber que modelo de sociedade a União Europeia pretende e o valor que pretende dar ao trabalho e à pessoa", sublinha.
"É preciso tornar a questão da empregabilidade dramaticamente central", acrescenta.
Mas como resolver este problema de uma economia com 17% de desempregados e quase 40% dos jovens sem emprego?
"Terá que adoptar-se uma concepção de política económica que não aponte puramente para o reequilíbrio das contas públicas, mas sim para o desenvolvimento de um mercado interno muito mais denso, que acabe com esta absurda política de austeridade, libertando mais alguns meios para que possa haver reindustrialização e surgirem novas oportunidades de trabalho", responde Paz Ferreira.
Quanto ao discurso da Alemanha que exige mais austeridade, responde de uma forma inesperada: "A Alemanha insinua que gostava de colocar uns países fora do euro, o que eu gostava era de colocar a Alemanha fora do euro". Reconhecendo que "era uma operação difícil", Paz Ferreira sublinha que até agora a "grande ganhadora da crise económica é a Alemanha que ganha com os empréstimos e está a financiar-se à taxa zero".
Porque se a Alemanha não estivesse na zona curo, o marco alemão estaria valorizadíssimo e a Alemanha teria imensas dificuldades em vender", acrescenta.
"Se fizéssemos este grande favor à Alemanha de a retirar do euro e criar uma outra zona com uma moeda mais fraca, gostava de saber como a Alemanha iria sobreviver", conclui.
Paz Ferreira, professor da Faculdade de Direito da UL
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