Historicando

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26 abril 2014

25 de Abril: Retornados 40 anos depois

Cristina Abreu: "Era completamente moçambicana"  
Um mês antes da independência, o cenário em Lourenço Marques (actual Maputo) era de "horror", com as pessoas "completamente apavoradas" e, por isso, Cristina Abreu decidiu deixar Moçambique.   À medida que os movimentos independentistas entravam "pela cidade adentro, a queimarem os carros e as pessoas", Cristina apercebeu-se de que o país onde nascera e sempre vivera "já não" era o seu.   À porta da agência de viagens, propriedade da família, formavam-se "bichas constantes" de habitantes que queriam comprar bilhetes só de ida.   Cristina Abreu partiu com o marido para as ilhas Seychelles, porque queria continuar em África. A irmã e os pais, todos nascidos em Moçambique, ficaram em Lourenço Marques, no meio de "muitos problemas".   Quando os empresários moçambicanos passaram a estar "em risco de serem presos", o pai juntou-se-lhes nas Seychelles, onde chegou "com a cabeça completamente coberta de cabelos brancos", lembra Cristina. A mãe foi a última a sair de Moçambique, "porque queria juntar alguns tarecos".   Os negócios nas Seychelles "não correram muito bem" e acabaram por vir para Portugal. Aos 22 anos, Cristina viu-se na dependência dos sogros, "conservadores", um "grande choque" para quem já era, na altura, "super independente".   Não se sentia portuguesa e o rótulo de "retornada" não se ajustava. Ela não estava a voltar, porque nunca fora dali.   "Era completamente moçambicana", distingue. Quando chegou a Portugal, pensou que "tinha passado (...) para um sítio" com anos de atraso. "Achava isto uma parvónia", reconhece.   A adaptação foi "um bocado difícil", porque a "mentalidade africana é muito diferente" da que encontrou em Portugal.   Para os pais, "foi uma coisa horrível". O pai tinha começado do nada e, quando teve de sair de Moçambique, tinha dois hotéis, duas agências de viagem e um safari "para gente rica". Ficou lá tudo.   "Todo o trabalho do meu pai, durante anos e anos e anos, ficou lá, sem indemnizações, sem absolutamente nada, sem um tostão, foi muito complicado", recordou Cristina.   Além do "trauma", os pais chegaram a Portugal "de mãos a abanar" e "sem dinheiro nenhum".   O pai vê-se forçado a ir procurar trabalho no Brasil e só quase aos 60 anos arranjará "um bom emprego" na hotelaria portuguesa.   "Portugal entregou de mão beijada as colónias" e fez "uma maldade inacreditável" aos portugueses que lá viviam, concluiu.
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