Maia chamou-lhe a insubordinação mais bela do 25 de Abril – o cabo apontador que desobedeceu às ordens do brigadeiro Junqueira dos Reis para disparar sobre a coluna de Santarém. José Alves Costa vive na aldeia de Balazar, terra onde nasceu em 1951. Tem quatro filhos e quatro netos. Reformou-se como construtor de pneus na Continental Mabor. Militares e jornalistas procuraram-no durante 39 anos.
Tão simples como isto:
"Eu estava em cima, na torre [do M47]. Ele [brigadeiro Junqueira dos Reis, segundo-comandante da Região Militar de Lisboa] subiu a grade do meu carro e foi para cima da grelha. Eu estava em sentido. Ele disse-me:
'Sabe trabalhar com isso, nosso cabo? ‘ Eu disse: ‘Pouco. ‘ Tentei compor... 'Fui improvisado para aqui. Sei pouco trabalhar com isto. ‘ O brigadeiro disse: 'Dá fogo já a direito. ‘ 'Dá fogo' era virado pr'aqueles [a coluna da Escola Prática de Cavalaria, de Santarém]. Eu disse: 'Vou ver se consigo, mas eu não sei. ‘ E ele só me respondeu: 'Ou dá fogo ou meto-lhe um tiro na cabeça! ‘ Pegou na pistola, vinha vestido de brigadeiro, mesmo. E eu então meti-me dentro da torre. Aquilo tem uma porta, fechei-a e disse para o condutor: 'Fecha as portas também. ‘ Eu, fechando-me dentro do carro, ninguém abre, porque aquilo é blindado, entende? Podia marrar lá com a cabeça que não me encontrava."
José Alves Costa
O melhor do 25 de Abril: a liberdade de se poder falar à vontade, desde que não se prejudique ninguém.
O pior: a liberdade de as pessoas chegarem ao ponto de não respeitarem a liberdade delas e do próximo.
Figuras que mais admira: Mário Soares, Ramalho Eanes e Vasco Lourenço.
http://www.publico.pt/politica/noticia/ou-da-fogo-ou-meto-lhe-um-tiro-na-cabeca-1629510#/3