Este surto de indignação popular imparável mostra que hão de ser "os de cima" a ter de sentir bem fundo o grau de sacrifícios que "os de baixo" têm vindo a fazer, desde 2009.
E já que o valor do patriotismo aflora aos lábios dos governantes, juntando a palavra à acção, peça-se – por dois escassos anos – uma contribuição patriótica a quem acumula o grande património deste país. Tarefa política ou tecnicamente impossível? Só se "os de cima" tiverem já posto o grosso dos seus bens a bom recato, nos paraísos apátridas deles...
“A engenhoca com a TSU rebentou com os diques da paciência da arraia-miúda, no fim do 3.º ano consecutivo de medidas estatais de austeridade. A necessidade e a dimensão do novo aperto nem são cabalmente explicadas nem se apresenta qualquer horizonte futuro de alívio.
Até à votação final global do OE13 – seja ele qual for! - vamos assistir a uma sucessão de acções de rua, que são outras tantas formas de gritar: "Basta! Estamos fartos!" Se esse grito, à luz da dureza da purga que lhe pedem que engula e do desconchavo da execução orçamental deste ano (resultante do purgante de 2012) é inteiramente justificado, mesmo inevitável, ele não contém ainda alternativa racional, efectiva e aceitável para a arraia-miúda. Para construí-la é preciso pôr preto no branco metas, constrangimentos, alternativas possíveis e razoáveis de corte da despesa do Estado e recomposição da receita em tempos de emergência. Esta é uma tarefa que a todos diz respeito.
O governo, e a maioria de centro-direita que o sustenta, aparentemente esqueceram este princípio básico de reforçar o envolvimento de todos os atores relevantes na cena das restrições financeiras e orçamentais, em vez de afunilar o discurso e a procura de soluções na tecnoestrutura ministerial e troikista. Por mais que o não queira, Coelho e Gaspar vão ter de apresentar outro cozinhado orçamental aos credores externos, um que a generalidade dos contribuintes aceite engolir. E fá-lo-ão agora em posição de maior fraqueza.
Ninguém parece ter a receita ideal pronta a servir. Mas este surto de indignação popular imparável mostra que hão de ser "os de cima" a ter de sentir bem fundo o grau de sacrifícios que "os de baixo" têm vindo a fazer, desde 2009. Os parasitas, que sabem sempre banquetear-se à mesa do Orçamento, têm de sentir que o vento mudou.
E já que o valor do patriotismo aflora aos lábios dos governantes, juntando a palavra à acção, peça-se - por dois escassos anos - uma contribuição patriótica a quem acumula o grande património deste país. Tarefa política ou tecnicamente impossível? Só se "os de cima" tiverem já posto o grosso dos seus bens a bom recato, nos paraísos apátridas deles...”
António Perez Metelo, Redactor principal do Dinheiro Vivo
http://www.dinheirovivo.pt/Economia/Artigo/CIECO059187.html?page=0