Historicando

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27 abril 2012

Dez Anos


Passam-se hoje dez anos que a desgraça chegou. Dez anos a lutar, sozinho, contra todo o tipo de adversidades. Contra a solidão em primeiro lugar, a falta de afecto, a palavra, a troca de ideias, o projectar o futuro imediato e o longínquo, a falta de assistência na doença, na resolução de problemas domésticos, no aconselhamento gestionário.
Três mil seiscentos e cinquenta dias a fazer de “palhaço”: rir para fora, sofrer por dentro.
Três mil, seiscentos e cinquenta dias a combater a inveja, o stress, a desconsideração, o ambiente laboral.
Três mil, seiscentos e cinquenta dias a cumprir o papel parental quase sozinho. A pagar quase tudo como se não houvesse o outro lado. Como se o outro lado estivesse sem posses… Outro lado lesto em recepcionar carinho, exigir presença. Outro lado lerdo em avançar com compromissos e obrigações. Outro lado a fazer de conta que não sabe, que não vê o óbvio, a evitar a todo o custo qualquer contacto, não vá ser confrontada com as suas obrigações financeiras…
Três mil, seiscentos e cinquenta dias posto de lado pelos consanguíneos, que fazem de conta que se dão. Atiram com uns olás e já está! Muito amigos (?), muito respeitadores (?) … Nunca há um convite verdadeiro, honesto, sincero, seja lá para o que for.
E a vida continua. Quero deixar este testemunho, não vão um dia ainda me atirarem à cara que não sabiam, que nunca me queixei. A vida… continua.