Não é fácil identificar quais foram e o que eram, ou pretendiam ser, as organizações por trás do “4 de Fevereiro”, mas é possível identificar aquele que foi o seu mais que provável cabecilha. Tratou-se do cónego angolano Manuel Mendes das Neves.
Em Fevereiro como em Março de 1961, MPLA e UPA estavam longe de se encontrarem preparados para fazerem uma guerra de insurgência contra o estado colonial português, acabando por a ela terem sido forçados como consequência de episódios de violência anticolonial e colonial cuja concepção, deflagração e desenvolvimento lhes escapou total ou parcialmente.
O efeito dos acontecimentos de Fevereiro e Março não se limitou à realidade angolana, ou se se quiser à mudança de comportamento por parte das direcções da UPA e, sobretudo, do MPLA. Na verdade, foi como consequência deles que o MPLA, logo em Abril de 1961, na Conferência das Organizações Nacionalistas das Colónias Portuguesas [CONCP] realizada em Casablanca, não apenas mostrou a sua intenção de, a prazo, iniciar a luta armada contra Portugal, como conseguiu, sem grande dificuldade, convencer o PAIGC e os “movimentos de Moçambique” (a FRELIMO foi criada em 1962) a enveredarem pela “luta de libertação” por essa ser a “única maneira de resolver o conflito que […] opunha” aqueles movimentos “ao colonialismo português.” Ou seja, apenas na sequência da cimeira de Casablanca, reunida sob a pressão dos acontecimentos, e do seu significado, ocorridos em Angola nos meses de Fevereiro e Março de 1961, os responsáveis de movimentos nacionalistas da África portuguesa, mas também de Goa, decidiram que a luta armada seria a “única maneira de resolver o conflito” com o Governo português.
http://observador.pt/especiais/angola-1961-como-os-independentistas-prepararam-guerra/