Historicando

Historicando
historicando@gmail.com

19 fevereiro 2013

Mulheres heróicas das Engenharias e Ciências


São mulheres que, em vez de optarem pelas áreas das Ciências Sociais ou da Educação, seguiram cursos ligados às Engenharias ou às Ciências. É sobre esta realidade que Luísa Saavedra, professora da Escola de Psicologia da UMinho, se debruça para desenvolver o projecto "Mulheres nas Ciências, Engenharias e Tecnologias: o efeito do oleoduto que pinga". Baseado numa amostra de 100 mulheres, o estudo demonstra que ainda existe uma prevalência de "estereótipos de géneros", associados às profissões tradicionalmente masculinas".
Em Portugal, também se faz sentir o efeito do "oleoduto que pinga" – termo americano segundo o qual "o número de mulheres tende a diminuir à medida que se avança na escolaridade e, posteriormente, na carreira profissional", diz a investigadora. O estudo tem como principais objectivos perceber que aspectos condicionam a escolha de áreas "tradicionalmente masculinas" e analisar as dificuldades ou vantagens encontradas pelas engenheiras e cientistas no mundo profissional. Os resultados basearam-se nas entrevistas de uma centena de mulheres, residentes nas zonas do Norte e Centro do país, que foram divididas em vários grupos: alunas de 9.° e do 12.° ano que se mostram decididas ou minimamente interessadas em prosseguir uma das áreas em análise, universitárias dos cursos de Engenharia ou Ciências, profissionais mais novas e de idade avançada que já ingressaram no mercado do trabalho.
A família, os estereótipos e a empregabilidade influenciam a escolha
O apoio familiar é um dos factores mais importantes para aquelas alunas do secundário que se mostram bastante decididas em optar por áreas de Engenharia ou Ciências:
"Nota-se que as figuras familiares são primordiais aquando da escolha. O facto de terem familiares nestas áreas ajuda na percepção que têm da profissão em si", avança a psicóloga. Para além do gosto pela Física e Matemática e pelas actividades mais práticas, a empregabilidade é outro factor que joga a favor dos cursos ditos masculinos - Engenharia, Informática e Ciências: "Mesmo percebendo que pode ser difícil, algumas preferem correr o risco por saberem que é uma área de trabalho com muitas saídas profissionais", esclarece Luísa Saavedra.
Quanto às mais indecisas, deixam-se facilmente influenciar pelos estereótipos de género criados pela sociedade e alimentados em pleno seio familiar: "Os próprios pais atribuem sexo às profissões ao dizer 'isso não é trabalho para menina'", reforça. O género destaca-se assim como uma das barreiras que mais limita a liberdade de escolha das jovens, em termos escolares e profissionais, influenciando a forma como concretizam as suas decisões ao longo do ciclo de vida. "É devido a esta influência que as raparigas e mulheres continuam a evitar domínios de actividade associados às Ciências, à Informática e às Engenharias e a orientar-se mais para as áreas das Letras ou onde a dimensão do 'cuidar' de outros seja determinante, como é o caso da Psicologia, Ciências da Enfermagem, Medicina ou Serviço Social", acrescenta.
Dados oficiais do Ministério da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior, referentes aos anos lectivos de 2000/01 e 2007/08, revelam que a percentagem de diplomadas diminui em Ciências, Matemática e Informática (de 59% para 56%), e em Engenharia, Indústrias Transformadoras e Construção (de 35% para 28%).
A discriminação só aparece mais tarde
As profissionais entrevistadas para o estudo eram dos ramos mais pesados das engenharias: Mecânica, Metalúrgica, Geológica e Gestão Industrial. Deste grupo de mulheres, as mais jovens são aquelas com a percepção mais positiva. Os estudos nacionais e estrangeiros indicam, na sua maioria, que as dificuldades derivadas do sexo aparecem mais tarde.
Embora o alto nível de empregabilidade das áreas ligadas à Engenharia facilite a entrada das recém-licenciadas no mercado laborai, a maioria das trabalhadoras mais "antigas" aponta para um conjunto de obstáculos: ascensão profissional, conciliação entre a vida profissional e familiar e percepção dos patrões e colegas de trabalho relativamente às suas capacidades em lidar com a relação trabalho/família. As mais velhas confirmam a existência de uma "discriminação camuflada": "Dizem ser bem tratadas pelos homens até surgir a possibilidade de assumir um cargo de chefia, onde lhes são postas algumas dificuldades, ou então quando decidem casar e ter filhos", justifica. 0 assédio sexual e as diferenças salariais são outras realidades apontadas pelas engenheiras e cientistas.
http://www.clipquick.com/Files/Imprensa/2013/02-16/1/5_2001717_2C9EA1AAF06073899D0F876E6FFA6D35.pdf