Historicando

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07 março 2012

Grécia partiu para a ameaça

E, de repente, a Grécia partiu para a ameaça. Uma semana depois de ter estendido a mão para pedir mais um pacote de resgate, Atenas passou uma mensagem simples: ou aceitam fazer parte da nossa reestruturação de dívida ou não pagamos. Dito assim, com meia Europa a tremer. Ontem, o PSI20 fechou todo no vermelho, com o mercado a antecipar que Atenas entra em 'default' e que tudo o resto (incluindo Portugal) vai por arrasto. Será?
Antes de continuarmos com o argumento, vale a pena parar para fazer contexto. O plano de resgate grego acordado com a troika parte de três pressupostos: 1) Atenas aceita mais austeridade e uma redução brutal do Estado; 2) Bruxelas aceita sustentá-la até o pior passar; 3) os investidores privados têm que aceitar um corte de 50% na dívida grega para que Atenas reduza de 160% para 120% a sua dívida em relação ao PIB.
Os três são complementares: sem cortar no Estado não vale a pena financiar o futuro, sem resolver a dívida não há cheque que aguente. O problema, como percebem, está neste terceiro ponto - a renegociação da dívida. Após meses de negociação, Bruxelas fechou um acordo onde os privados aceitam perder metade do que já investiram em troca de uma garantia: o resto será pago a seu tempo. Assim - e se 95% dos investidores concordarem - o negócio faz-se e a dívida grega passa de uns estonteantes 160% do PIB para 120%. Brilhante (diz Atenas), graças a Deus (diz Berlim) porque não há um incumprimento caótico da dívida.
Só que aquí entra um problema legal. 86% destes credores assinaram contrato sob a lei grega. Assim, mal ou bem, irão receber os seus 50% e acionar os seguros que fizeram para proteger essa dívida - recebendo mais um bocado. O problema são os outros 14%, que negociaram os seus empréstimos à luz da lei internacional. Para estes não é líquido que tenham que aceitar esta perda. Pior: alguns preferem mesmo esperar para ver, negociando dívida até ao último momento.
Os bancos portugueses - que estão no primeiro lote - rapidamente disseram que aceitam perder dinheiro em Atenas. Ainda bem que o fizeram: é a melhor forma de, publicamente, corrigirem os seus balanços. Se tudo falhar - por culpa dos renitentes - Atenas só terá uma opção: assumir que tudo o que deve vale zero. Esperemos que não.
http://www.dinheirovivo.pt/Artigo/CIECO037236.html?page=2