2.ª Carta Aberta a Pedro Passos Coelho
Errare humanum est
Certamente, não lhe faltará no partido, nem fora dele — oposição, jornalistas, população em geral — quem, em tão importante momento, lhe queira dar conselhos. De certa forma, é também o que eu pretendo com esta carta, não porque ache que deles precisa, ou porque me considere habilitado para tal, mas porque se prepara para ser primeiro-ministro do meu país, e tudo o que fizer — bem ou mal — se repercutirá na minha vida, como, infelizmente, a situação actual bem exemplifica. É, pois, enquanto cidadão anónimo, mas cidadão, que me outorgo este "direito".
Estava na Sala Porto do Tiara Park, quando V.ª Excelência, humildemente, reconheceu que o programa do PSD para a Educação precisa de ser melhorado. Se já o admirava, mais o admiro agora, pela sua honestidade e pela sua corajosa humildade. É claro que tal atitude — num país habituado à soberba — despertou imediatamente a cobiça e a ânsia daqueles que estavam à espera do mínimo pretexto para o atacar, para o diminuir. Pois bem, Dr. Pedro Passos Coelho, tenho a certeza de que muitos cidadãos pensarão como eu, porque errare humanum est. Eu erro todos os dias, e todos os dias corrijo erros meus. É assim no plano individual, é assim no plano colectivo, nacional e internacional. Os pequenos países e as grandes potências erram diariamente, mas também fazem, diariamente, muitas coisas bem feitas. Consertar o que se fez mal é uma das mais dignas atitudes que o Homem pode ter. O que é preciso é haver clarividência para identificar os erros, coragem para os admitir, inteligência e energia para os corrigir. Aqueles que assim não procedem nunca serão ninguém. E ai dos países que têm homens destes no seu leme! Ai desses países!
Desejo-lhe, pois, Dr. Passos Coelho, que, quando for primeiro-ministro de Portugal, continue a ser humano, a errar e a corrigir os seus erros, a bem da Nação. E jamais tenha pudor, tal como não teve no pretérito dia 12, de admitir que errou, porque jamais lhe pesará a consciência se, antes de cada decisão, souber ouvir aqueles que, sobre cada assunto em particular, têm mais conhecimentos do que o senhor, porque o voto confere legitimidade para governar, não confere omnisciência; jamais lhe pesará a consciência — porque a tem — se, antes de cada decisão, tentar responder a esta simples questão:
— O que (ou quem) é melhor para o país, neste momento?
Só os Homens realmente grandes admitem as suas falhas, precisamente porque são grandes. Para os pequenos e emproados ficam as atitudes mesquinhas, como a de vestirem as hipócritas vestes de arquétipos da sabedoria.
José Sócrates, quando foi eleito pela primeira vez, desrespeitou completamente o programa eleitoral que o povo aprovou com o seu voto. E sentiu que tinha legitimidade democrática para tal. Em 2009, foi eleito porque escondeu ao país a situação calamitosa das contas públicas. E sentiu que tinha legitimidade para governar. Apesar de todas as desgraçadas evidências, o Partido Socialista continua a apoiar este homem e a fazer tudo para que ele seja reeleito. E sabe porquê, Dr. Pedro Passos Coelho? Porque há muita gente nesse partido a sufocar a tal pergunta simples, mas sábia. Em seu lugar, talvez outra esteja a ser formulada:
— O que (ou quem) é melhor para o partido, neste momento?
Por tudo isto, Dr. Pedro Passos Coelho, faça-nos o favor do continuar assim. E quando passar mais do que três dias sem reconhecer uma falha sua, desconfie de si mesmo!
Publicada por Luís Costa em Domingo, Maio 15, 2011
Do blog DaNação