Há 65 anos a Alemanha era uma ruína e, graças a ela, a Europa também. Admiramo-nos como os alemães se reergueram mas esquecemos que o fizeram, e bem, com ajuda externa. Ajuda de quem vira muitos dos seus compatriotas perder a vida para libertar a Europa da loucura nazi.
Não terão sido poucos a perguntar: porque raio havemos nós de os ajudar quando por o estado em que estão apenas os próprios podem ser responsabilizados? Quando, para além da sua própria destruição, são responsáveis pelo terror, o genocídio e a destruição de tantos países? A resposta era simples: era a única forma de garantir a paz na Europa e, já agora, era útil ao crescimento económico de todo o Ocidente. O mundo fechou os olhos à vingança, respirou fundo e ajudou a Alemanha a voltar a ser uma potência. A generosidade voltou a sentir-se na reunificação alemã, que a Europa transformou numa prioridade de todos, e no assentimento do alargamento a leste.
Chegámos à crise do euro. Os países periféricos estão a sofrer sem terem atacado ninguém. Limitaram-se a estar mais expostos aos ataques a uma moeda criada à imagem e semelhança do marco (e que em muito pouco lhes tem sido útil). Não cumpriram demasiadas vezes os critérios orçamentais impostos, mais uma vez, pela Alemanha? Sim, assim como a Alemanha não os cumpriu em diversos momentos sem que isso então lhes parecesse um crime de lesa Europa.
À pergunta de tantos alemães - porque havemos de pagar a desgraça dos outros? - podem encontrar a resposta na sua própria história: porque sem isso a Alemanha não poderá contar com o crescimento que tem tido - muito à custa de um mercado aberto e de uma moeda que eles próprios desenharam. Porque sem a Europa estarão condenados a ser apenas mais uma Nação demasiado pequena e confortável para resistir à avalanche do Oriente.
Felizmente a Europa e os EUA tiveram líderes capazes de resistir ao egoísmo e à arrogância do vencedor. Ou a Alemanha os encontra ou, mais tarde ou mais cedo, o projecto europeu e o euro morrem por implosão. E nessas mortes o maior perdedor será a própria Alemanha. Porque ela foi o seu mais evidente beneficiário.
Daniel Oliveira (www.expresso.pt)