Historicando

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31 janeiro 2011

Economia, ética e os tempos conturbados

A envolvente Económica e os conturbados tempos que se avizinham justificam que reflictamos sobre a forma de actuar perante uma nova realidade que se avizinha com alteração do paradigma de desenvolvimento das sociedades modernas.
Todos sabemos que desde há cerca de cem anos vivemos na Economia da dívida e da falsa escassez. Este conceito é o suporte básico da envolvente económica que rege o Mundo. Não há aqui qualquer conceito político porque todas as ideologias se suportam neste paradigma.
As sociedades actuais vivem à sombra de um conjunto de Normas que foram criadas para nos tolher o poder de decisão e estreitar, se não obrigar, a seguirmos apenas um caminho.
Elas suportam-se em bases mais ou menos democráticas, mas todas são condicionadas por informação veiculada por órgãos de comunicação controlados politica ou economicamente, consoante o regime em que se desenvolvam.
Como se suporta este poder, que cada vez mais está na mão de cada vez menos actores?
A comunicação é controlada e veicula fait-divers relatando de forma propositadamente superficial temas pouco relevantes. O ensino forma, exceptuando os alunos mais dotados, uma massa de analfabetos fornecendo-lhes títulos para satisfazer os seus anseios, mas tendo o cuidado de não os ensinar a pensar para que não possam ser qualificados a criticar e analisar. A justiça é sistematicamente desqualificada e devidamente enquadrada para que não possa investigar e punir com demasiado rigor os actores de uma peça dramática que, assim, assume contornos de comédia.
Estes três pilares que levam à infantilização das sociedades e à criação de cidadãos acríticos subjugados pela afirmação pelo ter e não pelo ser, suportam um poder Global que gere a riqueza e os recursos do Planeta de forma arbitrária e à margem dos princípios.
Como é que tudo começou?
As Sociedades têm o seu ritmo de criação de riqueza que é consequência da vitalidade económica de cada uma e da inter-dependência entre elas. Para que fosse possível uma aceleração dessa actividade permitindo mais transacções e maiores lucros aos detentores de bens transaccionáveis, após a crise de 29 e sobretudo após a II Guerra Mundial, entendeu-se que as Sociedades seriam cada vez mais desenvolvidas se fosse estimulado o consumo.
Só que para comprar um bem, seria necessário acumular riqueza primeiro, atrasando demasiado esse pretendido crescimento (consumo). Passou-se, então, a dar outra latitude ao uso do crédito, acelerando esse processo consumista.
Esta aceleração foi-se acentuando, obrigando a cada vez maiores quantidades de fundos e a maiores quantidades de países e cidadãos endividados.
A disseminação da dívida alastrava. Mas havia várias barreiras. A distância entre Mercados, as Nações e as fronteiras aduaneiras, a regulação, etc., etc.
Em meados da década de 80 do século passado e durante a década de 90 procedeu-se à aceleração final. Acordos aduaneiros Globais e a desregulação levaram ao limite a Economia da dívida.
Os bancos Centrais emitiram dívida a velocidades inimagináveis, o Sistema Bancário desregulado criou produtos sofisticadíssimos que mais não eram que sucessivos logros para incautos investirem poupanças em produtos que não sabiam o que eram. Tudo isto na presunção do crescimento ilimitado do Consumo, do crescimento continuado das Economias de cada País, suportadas em Serviços criados por esta realidade ou por bolhas especulativas sobre activos, por exemplo, imobiliários.
Esta Ditadura da dívida suportada na ignorância das populações, distraídas com fait-divers, embeiçadas com gadgets inúteis mas muito evoluídos tecnologicamente, permitiu uma concentração de riqueza na mão de tão poucos, que a soberania está perder-se. E está a perder-se porque pode ser presa fácil de quem tem poder económico para subjugar incautos, que se deixaram envolver por dívidas que, plausivelmente, com a riqueza que criam, dificilmente conseguirão pagar as dívidas contraídas.
Restar-lhes-á vender os seus activos ao desbarato e, com alta probabilidade, sempre aos mesmos actores.
Resumindo, entre 1980 e 2009, Portugal aumentou o PIB para o dobro e aumentou 55 vezes a dívida. Se não nos endividámos para crescer, só podemos ter-nos endividado para consumir.
Como sabemos que muito deste consumo foi importado, a dívida global é bem maior que a dívida do Estado.
Pior, o Estado esmagou os contribuintes com Impostos que suportassem a ineficiência e o clientelismo tentacular que foi criando, sempre suportado na informação fait-divers de cidadãos infantilizados e analfabetos, servidos por uma justiça que deveria ser cega mas não tanto.
E chegámos a um ponto que não vai ser mais possível esconder a realidade.
Podemos ser solidários, podemos ser críticos com base no conhecimento, podemos intervir nas escolas, nos condomínios, podemos associar-nos, podemos não nos associar, podemos intervir de todos os modos, o que não podemos, é passar o tempo a queixar-nos e esperar que alguém nos resolva os problemas.
Cada vez mais o Mundo oscila entre a capacidade de nos mobilizarmos todos ou a fatalidade de deixar o nosso destino na mão de alguns, por sinal, muito poucos e cada vez mais, esses poucos, são cada vez menos.

Isaac Newton M:. M:.